Introdução
Sabe aquele PDI (Plano de Desenvolvimento Individual) que sua empresa criou para você? Aquele documento bonitinho com metas trimestrais e competências a desenvolver? Pois é, tenho uma notícia: ele não é seu. É da empresa. E se você está esperando que alguém seja responsável pela sua carreira, você já começou no lugar errado. Inclusive, um dos livros que está na minha lista para leitura é o: Seja Egoísta Com Sua Carreira. Assim que eu conseguir terminar de ler ele, trarei um artigo dedicado para ele.
A verdade é que, no mundo tech atual, quem não assume o protagonismo da própria jornada profissional fica para trás. Não estou falando só de aprender o framework frontend da moda, Kubernetes ou a próxima linguagem hypada. Pode parecer clichê, mas estou falando das famigeradas e subestimadas soft skills. Nesse artigo quero abordar uma que me ajudou e ainda me ajuda muito na minha carreira e que pode ser o que falta para alavancar a sua carreira o temido feedback.
Inspirado na cultura radical da Netflix, descrita no livro "Netflix: A Regra é Não Ter Regras", vou te mostrar como transformar feedback em combustível para o seu verdadeiro PDI – aquele que só você pode construir.
O Dilema do PDI: Empresarial vs. Pessoal
Aqui está a realidade nua e crua: as empresas têm PDIs focados em suas necessidades. Querem te promover? Ótimo, mas dentro do que faz sentido para elas. Precisam de alguém para aquela vaga específica? Perfeito, você vai se encaixar ali.
Mas e o seu plano? Aquele que considera seus sonhos, suas ambições, seu timing?
Eu posso ainda não ter lido o livro, mas acredito que a frase se encaixa bem nesse contexto, é hora de ser "egoísta" com sua carreira. Não, isso não é ser individualista ou antissocial. É reconhecer que você é o CEO da sua própria trajetória profissional. Empresas podem quebrar, projetos podem ser cancelados, chefes podem mudar – mas sua carreira continua com você.
Em resumo, o PDI pessoal é sobre construir competências que você considera relevantes, no ritmo que você define, com objetivos que você traçou. É sobre ser dono do seu crescimento, não espectador.
O momento que tomei as rédeas da minha carreira
Eu gostava muito da empresa na qual eu estagiava, eu tentei aprender e entregar ao máximo porque eu gostava muito das pessoas que estavam comigo e eu enxergava que eu ainda tinha muito a aprender com elas. Porém, o tempo foi passando e o contrato estava se encaminhando para o fim.
Faltando poucos meses para o fim, a empresa ainda não tinha me dado nenhuma posição sobre efetivação, mesmo com recomendação de todos os meus pares e gestores próximos. O que ocorreu foi que a empresa acabou passando por alguns problemas de margem financeira e como existiam investidores por trás, a decisão estratégica da empresa foi não aumentar o headcount. Dessa forma, meu contrato de estágio foi rompida e eu caí no mercado em busca de uma oportunidade.
A lição que eu tirei dessa situação foi que, independente da empresa, eu tenho que ter meus objetivos.
Esses objetivos podem ser objetivos técnicos, ou seja, querer trabalhar com alguma tecnologia específica, em uma empresa específica, em algum tipo de projeto específico ou pessoais como ser nômade digital, conseguir juntar uma determina quantia financeira, dentre muitas outras possibilidades. Uma vez com esses objetivos bem definidos, passei a construir um planejamento que contém algumas tarefas que posso cumprir em um curto espaço de tempo, mas que estejam alinhadas com o objetivo inicial.
De forma a ter um posicionamento de fora e, idealmente imparcial, o feedback acaba sendo uma ferramenta interessante. Através do feedback recebido, posso fazer uma autoavaliação e considerar o input do feedback para enriquecer a análise e ainda tomar ações em cima do feedback. Seja ela de reforço ou corretivo.
Eu gosto bastante de usar o Trello para organizar meus estudos e acabo usando ele para fazer esse acompanhamento. Por mais que eu esteja devendo bastante atualizar ele, muito por conta de demandas do mestrado, eu deixo ele aberto nesse link, caso você tenha interesse.
Feedback como Combustível do Seu PDI Pessoal
Agora, como você alimenta esse PDI pessoal? Com dados. E no ambiente corporativo, os dados mais valiosos sobre seu desempenho vêm através de feedback constante.
A Netflix revolucionou isso com uma cultura onde o feedback não é um evento anual traumático, mas uma prática diária. Eles têm uma regra simples, mas poderosa: "Só fale de uma pessoa aquilo que você diria na cara dela".
Imagina o impacto disso! Sem fofocas nos corredores e rádio peão, sem "politicagem" ou aquelas conversas de bastidores que todo mundo odeia. Apenas comunicação direta, honesta e construtiva.
Essa transparência cria um ambiente onde você consegue coletar informações reais sobre seu desempenho, seus pontos fortes e áreas de melhoria. É como ter um dashboard em tempo real da sua performance profissional.
Os 4 A's do Feedback Netflix: Dando e Recebendo (lá ele?) com Propósito
A Netflix desenvolveu um método chamado "4 A's" que transforma feedback de algo desconfortável em uma ferramenta de crescimento mútuo. Vamos destrinchar:
Para quem dá feedback:
1. Alvo a alcançar Seu feedback precisa ter um propósito claro: ajudar a pessoa a evoluir. Nada de meio termos ou "feedback sanduíche" (elogio-crítica-elogio). Seja direto, construtivo e, acima de tudo, sincero.
A ideia é criar oportunidades reais de crescimento. Se você não consegue ver como seu feedback pode ajudar a pessoa, talvez seja melhor repensar se deve dizê-lo.
2. Ação específica Esqueça generalidades como "você precisa melhorar sua comunicação". Seja específico:
❌ "Você não colabora bem"
✅ "Nas últimas três reuniões, você interrompeu colegas quando eles estavam explicando soluções técnicas"
Focus em comportamentos observáveis, não em personalidade. Isso torna o feedback acionável e menos defensivo.
Para quem recebe feedback:
3. Agradecer Esse é o mais difícil. Quando alguém te dá um feedback que dói, o impulso natural é se defender, justificar ou rebater. Resista.
Simplesmente diga "obrigado". A pessoa gastou tempo e energia para te ajudar a crescer. Mesmo que você discorde completamente, o ato de receber feedback já tem valor.
4. Aceitar ou descartar Aqui está a liberdade: você decide o que fazer com o feedback. Nem todo feedback é ouro, alguns podem ser ruído. Mas avalie com mente aberta.
Pergunte-se: "Existe alguma verdade nisso?" Mesmo que seja apenas 10% verdade, pode ser uma pepita valiosa para seu desenvolvimento.
O Método "Parar, Começar, Continuar": Simplicidade e Impacto
Complementar aos 4 A's, existe um framework ainda mais simples e direto:
Parar
O que você deve deixar de fazer? Exemplos práticos:
Parar de dominar todas as discussões técnicas
Parar de assumir que todos têm o mesmo nível de conhecimento que você
Parar de implementar soluções sem entender o problema real
Começar
O que você precisa iniciar? Alguns exemplos:
Começar a fazer perguntas mais estratégicas nas reuniões
Começar a documentar suas decisões técnicas
Começar a mentorar desenvolvedores júnior
Continuar
O que você está fazendo bem e deve manter:
Continuar compartilhando conhecimento técnico
Continuar sendo criativo na resolução de problemas
Continuar questionando decisões quando necessário
A beleza dessa abordagem está na clareza. Não há espaço para interpretações duvidosas. É objetivo, acionável e fácil de lembrar.
O Que Fazer com o Feedback? Agir ou Refletir
Receber feedback é apenas o primeiro passo. O que realmente importa é o que você faz depois.
Se você recebeu feedback:
Processe com calma: Dê um tempo para digerir. Feedback útil às vezes incomoda justamente porque toca em pontos que precisamos trabalhar.
Separe o joio do trigo: Nem todo feedback é válido. Considere a fonte, o contexto e sua própria percepção.
Crie um plano de ação: Mesmo que seja mental. "Na próxima reunião, vou falar menos e escutar mais" já é um plano.
Busque exemplos específicos: Se o feedback foi vago, volte na pessoa e peça exemplos concretos.
Se você deu feedback:
Acompanhe discretamente: Observe se houve mudanças, mas sem pressionar.
Reconheça melhorias: Se vir evolução, mencione. Feedback positivo é tão importante quanto o construtivo.
Esteja disponível: Se a pessoa quiser conversar mais sobre o assunto, esteja aberto ao diálogo.
Sua Carreira, Suas Regras
Aqui está a verdade que ninguém te conta: seu PDI é responsabilidade sua. As empresas podem oferecer trilhas, mas quem constrói a estrada é você.
O feedback constante – dado e recebido com inteligência – é sua principal ferramenta para navegar nessa jornada. É através dele que você descobre seus pontos cegos, valida suas percepções e acelera seu crescimento.
No mundo tech, onde mudanças acontecem mais rápido do que gostaríamos, profissionais que dominam a arte do feedback têm uma vantagem competitiva enorme. Eles evoluem mais rápido, constroem relacionamentos mais sólidos e, consequentemente, têm carreiras mais satisfatórias.
Então, que tal começar hoje? Use os 4 A's na próxima conversa difícil que você precisar ter. Experimente o "Parar, Começar, Continuar" no seu próximo one-on-one. Transforme feedback de algo que você evita em algo que você busca ativamente.
Lembre-se: em um mundo onde todos estão aprendendo React, quem sabe dar e receber feedback de verdade é quem se destaca. Hardskills te colocam na mesa, mas são as softskills que te fazem ficar.

